
Nato era uma criança muito alegre. Sua pouca estatura perante seus amigos lhe garantia mais agilidade, o que era muito bom para brincadeiras de pegar, mas também lhe rendia muito trabalho, afinal, era sempre ele quem tinha que buscar a bola de futebol quando passava a cerca, caía no bueiro ou ficava presa nas árvores. Certo dia, voltou da escola querendo brincar com seus amigos que o aguardavam para mais uma daquelas partidas de futebol que só acabam quando anoitece ou com os gritos bravos de alguns pais determinando o encerramento do jogo. Sua mãe lhe proibiu de sair, alegando que deveria naquele dia fazer as tarefas da escola, algo que soou estranho para o menino, pois seu turno de temas de casa era à noite. Mesmo diante na negação materna, ele insistiu, com o apoio dos amigos que reforçavam o pedido, até que, mesmo com o coração lhe indicando o não, a amorosa mãe lhe disse o sim.
Correram até o campinho e iniciaram a grande partida, com direito a dribles elásticos de Nato que parecia estar mais inspirado que o normal. Cortou um adversário, aplicou uma janelinha no outro e fuzilou o goleiro, balançando a rede fictícia daquelas traves feitas com troncos de goiabeira. Saiu em comemoração, como se tivesse marcado o gol em uma final de campeonato e foi cumprir sua missão de buscar a bola, afinal, em futebol de criança, quem “chuta, busca”.
A pelota parou ao lado de um córrego com uma correnteza assustadora e logo após pegar a bola, percebeu, no outro lado da margem, algo reluzindo. Seus olhos pareciam hipnotizados por aquele “diamante azul”. Conforme a curiosidade aumentava, o medo e a estratégia de como pegar aquela pedra lhe tomava a mente. Seus amigos se aproximaram do córrego ao perceber seu comportamento estranho e o encorajaram a atravessar o riacho, com gritos motivadores.
O coraçãozinho de Nato batia mais forte e, tomado por um impulso, ele saltou, mas não conseguiu atravessar o córrego, desaparecendo para sempre nas águas. Era o fim da história do serelepe Nato. A pedra preciosa, dias depois, descobriu-se ser apenas um simulacro de vidro.
O sentimento de culpa tomou conta daquelas crianças que incentivaram o fatídico salto. Eles entenderam, da pior forma possível, que nem sempre quem tem boas intenções vai lhe dar as melhores orientações e que, antes de afirmarmos nossas grandes verdades, devemos ver de perto o outro lado para não nos apegarmos a sugestões cheias de amor, mas que matam…
EDER BOARO é instrutor Master Mind e colunista político
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