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COVID-19: Cardiologista explica potenciais riscos aos pacientes com doenças cardiovasculares

Por que a incidência de mortes por Covid-19 é maior em pacientes cardíacos? Quais características fazem com que os cardiopatas apresentem risco para os sintomas graves dessa nova doença? Há patologias dessa especialidade médica mais propensas a desenvolverem complicações do novo coronavírus? Em que casos o tratamento cardiovascular deve ser suspenso? A Covid-19 pode agravar os distúrbios cardíacos pré-existentes? A pandemia tem gerado muitas dúvidas, principalmente nas pessoas que integram os grupos de risco. Conforme o cardiologista e médico cooperado da Unimed Chapecó, Dr. Gustavo Zenatti, o risco de morte ou complicações por Covid-19 é maior para os pacientes cardíacos, contudo isso não reflete na probabilidade em contrair a doença.

O médico relata que nas infecções graves por Covid-19 podem ocorrer alterações inflamatórias, ativação da cascata de coagulação, disfunções endoteliais (alterações vasculares) com formação de microtrombos (pequenos coágulos) e lesão direta das células miocárdicas (miocardites e arritmias). “Essas alterações desencadeadas pelo vírus podem descompensar a doença cardíaca subjacente, ou seja, paciente com stent prévio (angioplastia) pode apresentar novo episódio de obstrução da artéria e a pessoa com insuficiência cardíaca entrar em falência do órgão. Em termos práticos, o enfermo coloca seu coração a um teste ergométrico neste caso sem pausa ou controle para interrupção, resultando em um grande estresse sistêmico”, explica.

A taxa de letalidade por Covid-19 é variável para pacientes com doenças cardiovasculares, por isso é necessário avaliar o tipo de patologia cardíaca e a associação de outros fatores de risco. Segundo Zenatti, alguns estudos demonstraram que pelo simples fato da pessoa ter arritmia cardíaca a mortalidade foi de 11,5%, de insuficiência cardíaca de 15,3% e de doença arterial coronariana (infarto prévio, cirurgia de revascularização miocárdica ou angioplastia) de 10,2%. “Nesses casos, a maioria era idosos, o que confere risco isolado de 10%”, ressalta.

Ao considerar patologias desta especialidade médica, as mais propensas para os quadros clínicos graves da Covid-19 são as doenças coronárias, incluindo pacientes que realizaram cirurgia de revascularização cardíaca com ponte de safena, que apresentaram infarto agudo do miocárdio ou o uso de stents para desobstrução de artérias coronárias. Também precisam ter cuidado redobrado as pessoas com miocardiopatias (distúrbios cardiovasculares que afetam o coração e dificultam o bombeamento do sangue para todo o corpo). “Para esse grupo incluem-se as cardiopatias dilatadas, restritivas que é um grupo específico de doença, as cardiopatias hipertróficas e displasia arritmogênica do ventrículo direito”, expõe o cardiologista.

Zenatti alerta que pacientes com arritmias cardíacas também têm propensão a desenvolver complicações com o novo coronavírus. “Nos casos de arritmias genéticas, a exemplo da Síndrome de Brugada, o risco de morte aumenta, principalmente se a temperatura exceder os 39ºC e ocorrer o uso inadvertido de medicações. O mesmo vale para Síndrome de QT Longo, pois a hidroxicloroquina e derivados podem ampliar o chamado intervalo QT e desencadear eventos arrítmicos fatais”, adverte.  Segundo o médico, a presença de fibrilação atrial de maneira isolada não adiciona risco. Porém, essa arritmia é comum em pacientes acima de 60 anos, que podem ter associado a diabetes mellitus e hipertensão arterial. “Essas duas comorbidades têm uma estreita relação com o sistema cardiovascular, que aumentam a mortalidade nos pacientes com Covid-19”, afirma.

Mesmo com esse quadro de cautela para os cardíacos, Zenatti ressalta que a maioria dos pacientes apresentarão sintomas leves ou ausência de sintomas. “Sabemos que este é um momento assustador para muitas pessoas, mas é importante esclarecer que a maioria apresentará sintomas leves e com recuperação completa. Ter um problema cardíaco ou circulatório não aumenta a probabilidade de pegar o novo coronavírus, mas se for contaminado as possibilidades de evoluir para um quadro delicado é maior, por isso a importância de se proteger”, ressalta. As orientações e os cuidados de prevenção são semelhantes as demais pessoas: lavar sempre as mãos com água e sabão ou higienizar com álcool em gel; evitar aglomerações e contato próximo com pessoas com sintomas respiratórios e utilizar máscara de proteção facial.

O cardiologista reforça que em nenhuma hipótese o paciente deve abandonar seu tratamento médico, salvo com orientação do especialista. “O abandono ou uso irregular das medicações cardíacas aumentam as chances de descompensação do quadro pré-existente. Isso vale para os inibidores da ECA (IECA) ou bloqueadores do sistema renina angiotensina (BRA), sendo os mais comuns no mercado Enalapril, Ramipril, Losartan, Olmesartana, Valsartan etc. Essas medicações são utilizadas para tratamento de insuficiência cardíaca, hipertensão e outras patologias cardíacas e não há evidências científicas que possam aumentar a replicação viral nos pulmões. Contudo, sabe-se que a suspensão delas determinou uma pior evolução clínica para os pacientes com Covid-19”, argumenta.

ESTUDOS

Segundo Zenatti, há dados suficientes para determinar que os pacientes com Covid-19 podem apresentar, dependendo da série de estudo, taxas de complicações cardíacas de 15% a 30%. “Geralmente, os pacientes apresentam quadros graves do vírus e com comprometimento sistêmico, principalmente pulmonar. Porém, ainda não há evidências que a Covid-19 acometa isoladamente o sistema cardiovascular”, finaliza. (MB Comunicação).

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