Em 1982, no pleito eleitoral para o governo Estado do Rio de Janeiro, o resultado das urnas foi confrontado pelo candidato Leonel Brizola. Após a recontagem dos votos e descoberta de fraudes, que ficou conhecido como o escândalo da Proconsult, o gaúcho foi conduzido ao Palácio da Guanabara. Quase quarenta anos após esse episódio, o Brasil, mais uma vez, vive dias de incertezas com relação a segurança e transparência de uma eleição. No último domingo, após o sufrágio, diferentemente das disputas anteriores em que os tribunais regionais divulgavam os dados parcialmente, o sistema foi centralizado no TSE, causando atrasos na divulgação e impossibilitando a população de acompanhar o desenrolar das urnas, conforme as sessões eleitorais. A situação chegou a tal ponto absurda que o presidente do TSE, Ministro Luis Roberto Barroso comunicou que, devido a uma pane em um supercomputador, que, diga-se de passagem, foi adquirido sem licitação em março desse ano, pela bagatela de mais de R$ 26milhões, poderia anunciar verbalmente os vencedores do pleito.
É impossível negar o avanço que as tecnologias trouxeram para a humanidade, porém, a democracia acaba ameaçada sempre que depositamos a escolha dos governantes em uma máquina, que, como todas as peças tecnológicas, podem sofrer ataques e terem suas bases de dados adulteradas. Nos EUA, alguns Estados que utilizam um software para a contagem de votos tiveram problemas, mas, o que permitiu que se fizesse justiça, foi a cédula física, que pôde ser recontada. No Brasil não temos essa prerrogativa de conferência e somos obrigados a confiar em um sistema que não permite a verificação. Algumas PECs já estão no Congresso Nacional acrescentando à urna eletrônica um voto impresso, que, após a conferência do eleitor, seria depositado em uma urna lacrada para possível recontagem. Barroso, que alega que essa impressão permitiria a quebra de confidencialidade da escolha do eleitor, vai na contramão da segurança necessária e deseja implementar o voto através do celular em 2022, algo que permitiria as fraudes tecnológicas e a compra de votos assistida, num verdadeiro crime à democracia.
O próximo ano será crucial para que nossos parlamentares aprovem essa emenda à Constituição e nos ofereçam a impressão do voto para verificação, sob pena de ficarmos a mercê de grupos que manipulam notícias, censuram as redes sociais, adulteram pesquisas e criam um contexto muitas vezes diferentes do verdadeiro desejo da população…