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Um olhar divagado por Chapecó na nova exposição da Agostinho Duarte

Seja em forma de livro, música, teatro remoto ou em exposições online, neste momento de isolamento, a arte tem sido uma alternativa para muitas pessoas. O refúgio da correria do cotidiano, que hoje se modificou, apenas acentua a importância de expressões artísticas na vida do ser humano. Com a galeria Agostinho Duarte da Unochapecó fechada, se viu necessário um local para que as mostras continuassem a se comunicar com o público. Nesta quinta (25),  no Instagram da Galeria, às 19h, será a vez da segunda exposição neste formato, intitulada ‘Arquitetura do Medo’’.

A mostra, do professor e coordenador do curso de Design da Unochapecó, Henrique Telles Neto, é composta por 15 fotografias digitais feitas pelas ruas de Chapecó. A exposição foi pensada a partir dos registros que ele vem fazendo desde 2018. Elas nasceram de devaneios pela cidade, da observação da arquitetura e de como os espaços, públicos e privados, são protegidos. Ele conta que começou a fotografar ao olhar para o céu de várias maneiras. Em seguida, voltou sua percepção para a esmagadora vigilância sútil, que está presente diariamente no dia a dia da cidade, e muitas vezes, devido ao hábito, ninguém percebe que está sendo vigiado o tempo todo. 

Henrique retrata em sua composição fotográfica a ideia de monotonia vigiada, fotos sem pessoas para elencar a relação da vigilância da cidade e até onde vai a liberdade e a privacidade individual. Câmeras de vigilância, muros, alarmes, espelhos, grades, cercas elétricas, sistemas de segurança. Tecnologias diversas, artefatos inventados que compõem a paisagem urbana contemporânea, por vezes ignorados ou até naturalizados, mas que estão sempre onipresentes. Esses dispositivos configuram o que Nan Ellin denominou como ‘Arquitetura do Medo’. “As fotos tem o objetivo de serem mais frias, daí a falta de pessoas na composição. Foi um processo legal que eu consegui organizar nessa temática de como a gente utiliza desses artifícios de segurança para nos proteger”, complementa o professor.  

Arte e tecnologia 

Para a coordenadora do curso de Artes Visuais da Universidade, professora Marcia Moreno, foi de suma importância renovar a maneira de atender o universo artístico, enquanto espaço expositivo. E aposta na plataforma digital como um auxílio, mesmo com a volta à normalidade. “Desta maneira, aproximarmos a arte de tantas outras pessoas, que talvez, muitas vezes, não tinham como acessar a Galeria. Acredito que após o isolamento social, temos que mesclar a abertura de exposições presenciais com lives, pois teremos uma amplitude maior de contato e visualização das obras”. 

O professor Henrique, assim como Marcia, visualiza esta como uma saída interessante. Para ele, a mescla entre arte e tecnologia não é algo novo, mas neste momento que não se pode visitar a galeria, é necessário habitar o espaço virtual com outros conteúdos. “Acho que a gente vai ter uma exploração disso maior nos próximos tempos, e como eu falei, talvez minha proposta dialoga nesse sentido de isolamento e de vigilância constante”. 

A exposição visa, acima de tudo, transpassar uma reflexão. O idealizador deseja que as fotografias sejam um meio para que se estabeleça uma discussão sobre privacidade, segurança e medo na vida cotidiana. O professor Henrique finaliza ao afirmar que sair às ruas, registrar e fotografar, nessa perspectiva de arte contemporânea, de fazer a obra, é muito mais importante do que o seu processo final. “Na minha visão, cada vez mais precisamos de arte. Eu costumo falar uma frase que é do Ferreira Gullar, que diz – ‘A arte existe porque a vida não basta’ -, ou seja, o dia a dia, o trabalho, tudo que faz parte da nossa convivência, é tão cansativo, que ela é um refúgio na possibilidade de ter uma catarse e elevar nosso espírito”.

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