Médicos contratados para trabalhar no hospital de campanha do Anhembi, em São Paulo, estão dividindo camas nos seus locais de descanso, dormindo em sofás e até no chão. A eles, até cobertores têm sido negados pela gestão.
Uma médica, que trabalha no local e preferiu não se identificar, afirmou à reportagem do R7 que há um número insuficiente de camas, com colegas revezando o espaço no período de repouso. “Já negaram cobertores. É absurdo. Disseram que iriam resolver, e já são dois meses na mesma situação”, relata. Imagens obtidas pela reportagem – com alterações feitas pelos próprios médicos para preservar as identidades – mostram exatamente o que é relatado pela profissional.
As queixas, no entanto, não são as únicas entre os médicos que atuam no hospital do Anhembi, que se divide entre dois setores – um é administrado pela organização Iabas (Instituto de Atenção Básica e Avançada à Saúde), o outro pela SPDM (Associação Paulista para o Desenvolvimento da Medicina). Há também relatos de sobrecarga de trabalho, de má regulação de pacientes e de falta de diálogo com as respectivas direções dos dois setores.
Como relata a denunciante, o hospital de campanha deveria receber apenas pacientes com quadro clínico compatível com covid-19 e sem comorbidades graves. No entanto, a regulação administrada pelo Iabas tem aceitado, segundo ela, “casos de pacientes com quadros de outras doenças descompensadas, que não conseguimos manejar lá dentro”.
Ao mesmo tempo, o local também recebe pacientes sem a menor indicação de internação, com quadros leves ou até assintomáticos. Alguns desses pacientes chegam para se internarem sem nem saber que ficariam internados, conta ela: “Já atendi casos de pacientes que disseram: ‘Doutora, falaram que eu ia vir só fazer um exame, nem chinelo eu trouxe’. E ficarão confinados, sem acesso a celular e sem contato com a família por pelo menos um dia inteiro. Não consigo nem imaginar o quanto isso deve ser angustiante”.
Há, ainda, relato de médicos que denunciam a sobrecarga entre as equipes geridas pela SPDM, em que um médico precisa acompanhar 20 pacientes ao longo do dia. A denunciante ressalta que uma enfermaria de covid-19 exige muito mais dos profissionais que uma enfermaria clínica comum. O número médio, comenta, deveria ser em torno de 10 pacientes por médico. “Além de ter esse número descomunal, tudo isso é feito à mão, segundo os colegas que lá trabalham. São plantões extenuantes”, diz.
Um dos problemas mais graves, para a médica, é que os profissionais não podem fazer muitas exigências ou queixas sem ficarem expostos e “na mira” da diretoria. “Se você reclamar demais, como tem um vínculo precário, você vai perder seus plantões, porque nada te garante ali dentro. Você fica desamparado aceitando trabalhar ali”, relata. (Fonte R7).