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COLUNA EDER BOARO: “A origem da bala muda a comoção”

Nos últimos sessenta dias, só no Rio de Janeiro, duas crianças foram assassinadas por balas perdidas.

Ágatha Felix, de oito anos, estava em uma Kombi quando policiais atiraram em supostos bandidos, atingido a criança. A atitude reprovável dos militares demonstra que precisamos oferecer a esses agentes de segurança condições de trabalho para enfrentar criminosos fortemente armados. Vivendo sob constante pressão, esses homens da lei, que muitas vezes são mortos apenas por serem policiais, trabalham com o medo, na iminência de serem alvejados, o que os faz atirar ao menor sinal de ataque.

Em ações como essas, inocentes perdem a vida, demonstrando a falência do Estado. Na semana da morte de Ágatha, dezenas de artistas e intelectuais se manifestaram contra a violência policial e a política pública do governador Wilson Witzel. No jogo do Maracanã que teve naquela semana, foi feito um minuto de silêncio em homenagem a garota. Diversos parlamentares de esquerda escreveram dezenas de textos em suas redes sociais, condenando o governo do Rio de Janeiro, afirmando haver um genocídio contra negros e pobres nas favelas cariocas.

Na semana passada, Ketellin Gomes, de cinco anos, também foi vítima de bala perdida em um morro fluminense. A criança foi alvejada durante uma troca de tiros entre traficantes. Na mesma semana, também teve jogo no Maracanã, porém, dessa vez, a menina não mereceu homenagem. A maioria dos artistas, revoltados com a morte de Ágatha, não se sensibilizaram da mesma maneira com a morte de Ketellin. Os parlamentares, antes tão raivosos pela morte de uma criança, apenas lamentaram nas redes sociais mais um passamento, desejando forças à família.

Isso me intrigou de tal maneira que fui pesquisar que mal a pobre Ketellin poderia ter feito a essa gente que não teve a mesma compaixão com a sua morte. Durante a pesquisa, entretanto, percebi que as duas meninas e suas famílias, condenadas ao luto eterno, apenas foram dividas pela origem da bala.

Podemos perceber que existe uma comoção seletiva. Para os políticos oportunistas, condenar de forma veemente a morte de Ketellin, assassinadas por traficantes, seria bater de frente contra a ideologia que os sustenta e se posicionar contra os discursos de desmilitarização das polícias e liberação das drogas. Já para alguns artistas, demonstrar uma revolta profunda por esse crime não lhes rende a “lacração” que desejam e ainda traria a tona uma verdade que eles ocultam, a de que a mão que compra a droga é fiadora da mão que puxa o gatilho da arma do traficante…

Eder Boaro é instrutor Master Mind e colunista político

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